quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Constantino


Constantino I, também conhecido como Constantino Magno ou Constantino, o Grande (em latim Flavius Valerius Constantinus; Naissus,272 — 22 de maio de 337), foi um imperador romano, proclamado Augusto pelas suas tropas em 25 de julho de 306 e governou uma porção crescente do Império Romano até a sua morte.
Constantino derrotou os imperadores Magêncio e Licínio durante as guerras civis. Ele também lutou com sucesso contra os francos e alamanos, os visigodos e os sármatas durante boa parte de seu reinado, mesmo depois do reassentamento de Dácia que havia sido abandonada durante o século anterior. Constantino construiu uma nova residência imperial em lugar de Bizâncio, chamando-o de Nova Roma. No entanto, em honra de Constantino, as pessoas chamavam-na de Constantinopla, que viria a ser a capital do Império Romano do Oriente por mais de mil anos. Devido a isso, ele é considerado como um dos fundadores do Império Romano do Oriente.

Fontes

Constantino era um governante de grande importância histórica, e ele sempre foi uma figura controversa. As flutuações na reputação de Constantino refletem-se a natureza das fontes antigas de seu reinado. Estes são abundantes e detalhadas, mas foram fortemente influenciadas pela propaganda oficial do período, e são muitas vezes unilaterais. Não há histórias de sobreviventes ou biografias que lidam com a vida de Constantino e do Estado. As mais próximas substituições são Constantini Vita de Eusébio de Cesaréia, uma obra que é uma mistura de elogio e hagiografia Written between 335 and circa 339. Escrito entre 335 e cerca de 339, a Vita exalta virtudes morais ereligiosas de Constantino. A Vita cria uma imagem positiva contenciosamente de Constantino, e os historiadores modernos vêm frequentemente contestando sua confiabilidade. A mais completa vita secular de Constantino é do anônimo Origo Constantini. Uma obra de data incerta, o Origo concentra-se em acontecimentos militares e políticos, em detrimento de assuntos culturais e religiosos.

Ascensão a Augusto do Ocidente

Nascido em Naissus, na Mésia (actual Niš na Sérvia), filho de Constâncio Cloro (ou Constâncio I Cloro) e da filha de um casal de donos de uma albergaria na Bitínia, Helena de Constantinopla,Constantino teve uma boa educação — especialmente por ser filho de uma mulher de língua grega e haver vivido no Oriente grego, o que facilitou-lhe o acesso à cultura bilíngue própria da elite romana — e serviu no tribunal de Dioclecianodepois do seu pai ter sido nomeado um dos dois césares, na altura um imperador júnior, na Tetrarquia em 293. Embora sua condição junto a Diocleciano fosse em parte a de um refém, Constantino serviu nas campanhas do césar Galério e de Diocleciano contra os Sassânidas e ossármatas. Quando da abdicação conjunta de Diocleciano e Maximiano em 305, Constâncio seria proclamado augusto, mas Constantino seria descartado como césar em proveito de Flávio Severo (também conhecido modernamente como Severo II, título que jamais usou, para não ser confundido com o grande imperador do século anterior, Septímio Severo).

Termas construídas por Constantino em Trier, capazes de atender milhares de pessoas.
Pouco antes da morte de seu pai, em 25 de julho de 306, Constantino conseguiu a permissão de Galério para reunir-se a ele no Ocidente, chegando a fazer uma campanha juntamente com Constâncio Cloro contra os pictos, estando junto do leito de morte do seu pai em Eburacum(atual York) na Britânia, o que lhe permitiu impor o princípio da hereditariedade em seu proveito, proclamando-se "césar" e sendo reconhecido como tal por Galério, então feito "augusto" do Oriente. Desde o início de seu reinado, assim, Constantino tinha o controle da Britânia,Gália, Germânia e Hispânia, com sua capital em Trier, cidade que fez embelezar e fortificar.
Nos dezoito anos seguintes, combateu uma série de batalhas e guerras que o fizeram o governador supremo do Império Romano. Como Maximiano desejava retomar sua posição de augusto, da qual havia-se afastado a contragosto junto com Diocleciano, Constantino recebeu-o na sua corte e aliou-se a ele por um casamento em 307 com a filha de sete anos de Maximiano, Fausta, o que lhe permitiu ser reconhecido tacitamente como augusto em 308 por Galério, numa conferência dos tetrarcas em Carnuntum (atual Petronell-Carnuntum na Áustria). Em 309, no entanto, Constantino enfrentaria seu sogro, que tentava recuperar abertamente o poder, capturando-o em Marselha e fazendo assassiná-lo. Em 310, Constantino seria formalmente reconhecido como Augusto por Galério. Severo havendo sido entrementes eliminado, em 307, porMagêncio, filho de Maximiano que havia-se proclamado imperador em Roma, Constantino deveria acabar por enfrentrar seu cunhado para conseguir o domínio completo do Ocidente romano. Após uma série de mediações fracassadas e lutas confusas, Constantino, após apoiar o usurpador africano Lúcio Domício Alexandre, cortando o suprimento de trigo de Roma, de 308 a 309, desceu em 312 até a Itália para eliminar Magêncio.
Essas guerras civis constantes e prolongadas fizeram de Constantino, antes de mais nada, um reformador militar, que, para aumentar o número de tropas a sua disposição imediata, constituiu o cortejo militar do imperador (comitatus) num corpo de tropas de elite autosuficiente - um verdadeiro exército de campanha — principalmente pelo recrutamento de grande número de germanos que se apresentavam ao exército romano nos termos de diversos tratados de paz, a começar pelo chefe dos alamanos Chrocus, que teve um papel decisivo na aclamação de Constantino como Augusto.

Religião

O fato de Constantino ser um imperador de legitimidade duvidosa foi algo que sempre influiu nas suas preocupações religiosas e ideológicas: enquanto esteve diretamente ligado a Maximiano, ele apresentou-se como o protegido de Hércules, deus que havia sido apresentado como padroeiro de Maximiano na primeira tetrarquia. Ao romper com seu sogro e eliminá-lo, Constantino passou a colocar-se sob a proteção da divindade padroeira dos imperadores-soldados do século anterior, Deus Sol Invicto, ao mesmo tempo que fez circular uma ficção genealógica (um panegírico da época, para disfarçar a óbvia invenção, falava, dirigindo-se retoricamente ao próprio Constantino, que se tratava de fato "ignorado pela multidão, mas perfeitamente conhecido pelos que te amam") pela qual ele seria o descendente do imperador Cláudio II — ou Cláudio Gótico — conhecido pelas suas grandes vitórias militares, por haver restabelecido a disciplina no exército romano, e por ter estimulado o culto ao Sol.
Constantino acabou, no entanto, por entrar na História como primeiro imperador romano a professar o cristianismo, na seqüência da sua vitória sobre Magêncio na Batalha da Ponte Mílvio, em 28 de outubro de 312, perto de Roma, que ele mais tarde atribuiu ao Deus cristão. Segundo a tradição, na noite anterior à batalha sonhou com uma cruz, e nela estava escrito em latim:
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In hoc signo vinces
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— "Sob este símbolo vencerás"
De manhã, um pouco antes da batalha, mandou que pintassem uma cruz nos escudos dos soldados e conseguiu uma vitória esmagadora sobre o inimigo. Esta narrativa tradicional não é hoje considerada um fato histórico, tratando-se antes da fusão de duas narrativas de fatos diversos encontrados na biografia de Constantino pelo bispo Eusébio de Cesareia.
No entanto, é certo que Constantino era atraído, enquanto homem de Estado, pela religiosidade e pelas práticas piedosas — ainda que se tratasse da piedade ritual do paganismo: o senado, ao erguer em honra a Constantino o seu arco do triunfo, o Arco de Constantino, fez inscrever sobre este que sua vitória devia-se à "inspiração da divindade"(instinctu divinitatis mentis), o que certamente ia ao encontro das ideias do próprio imperador. Até um período muito tardio de seu reinado, no entanto, Constantino não abandonou claramente sua adoração com relação ao deusimperial Sol, que manteve como símbolo principal em suas moedas até 315.

Cristograma de Constantino
Só após 317 é que ele passou a adotar clara e principalmente lemas e símbolos cristãos, como o "chi-rô", emblema que combinava as duas primeiras letras gregas do nome de Cristo ("X" e "P" superpostos). No entanto, já quando da sua entrada solene em Roma em 312, Constantino recusou-se a subir aoCapitólio para oferecer culto a Júpiter, atitude que repetiria nas suas duas outras visitas solenes à antiga capital para a comemoração dos jubileus do seu reinado, em 315 e 326.
A sua adoção do cristianismo pode também ser resultado de influência familiar. Helena, com grande probabilidade, havia nascido cristã e demonstrou grande piedade no fim da sua vida, quando realizou uma peregrinação à Terra Santa, localizou em Jerusalém uma cruz que foi tida como a Vera Cruz e ordenou a construção da Igreja do Santo Sepulcro, substituindo o templo a Afrodite que havia sido instalado no local — tido como o do sepultamento de Cristo — pelo imperador Adriano.
Mas apesar de seu batismo, há dúvidas se realmente ele se tornou cristão. A Enciclopédia Católica afirma: "Constantino favoreceu de modo igual ambas as religiões. Como sumo pontífice ele velou pela adoração pagã e protegeu seus direitos." E a Enciclopédia Hídria observa: "Constantino nunca se tornou cristão". No dia anterior ao da sua morte, Constantino fizera um sacrifício a Zeus, e até o último dia usou o título pagão de Sumo Pontífice. E, de fato, Constantino, até o dia da sua morte, não havendo sido batizado, não participou de qualquer ato litúrgico, como a missa ou a eucaristia. No entanto, era uma prática comum na época retardar o batismo, que era suposto oferecer a absolvição a todos os pecados anteriores — e Constantino, por força do seu ofício de imperador, pode ter percebido que suas oportunidades de pecar eram grandes e não desejou "desperdiçar" a eficácia absolutória do batismo antes de haver chegado ao fim da vida.
Qualquer que tenha sido a fé individual de Constantino, o fato é que ele educou seus filhos no cristianismo, associou a sua dinastia a esta religião, e deu-lhe uma presença institucional noEstado romano (a partir de Constantino, o tribunal do bispo local, a episcopalis audientia, podia ser escolhida pelas partes de um processo como tribunal arbitral em lugar do tribunal da cidade). E quanto às suas profissões de fé pública, num édito do início de seu reinado, em que garantia liberdade religiosa, ele tratava os pagãos com desdém, declarando que lhes era concedido celebrar "os ritos de uma velha superstição".
Esta clara associação da casa imperial ao Cristianismo criou uma situação equívoca, já que o cristianismo tornou-se a religião "pessoal" dos imperadores, que, no entanto, ainda deveriam regular o exercício do paganismo — o que, para um cristão, significava transigir com a idolatria. O paganismo retinha ainda grande força política — especialmente entre as elites educadas do Ocidente do império — situação que só seria resolvida por um imperador posterior, Graciano, que renunciaria ao cargo de Sumo Pontífice em 379 — sendo assassinado quatro anos depois por um usurpador, Magno Máximo. Somente após a eliminação de Máximo e de outro usurpador pagão, Flávio Eugénio, por Teodósio I é que o cristianismo tornar-se-ia a única religião legal (395).
O imperador romano Constantino influenciou em grande parte na inclusão na igreja cristã de dogmas baseados em tradições. Uma das mais conhecidas foi o Édito de Constantino, promulgado em 321, que determinou oficialmente o domingo como dia de repouso, com exceção dos lavradores — medida tomada por Constantino utilizando-se da sua prerrogativa de, como Sumo Pontífice, de fixar o calendário das festas religiosas, dos dias fastos e nefastos (o trabalho sendo proibido durantes estes últimos). Note-se que o domingo foi escolhido como dia de repouso, não apenas em função da tradição sabática judaico-cristã, como também por ser o "dia do Sol" — uma reminiscência do culto de Sol Invictus.

Reformas religiosas, militares e administrativas


Constantino: mosaico em Hagia Sofia
Constantino legalizou e apoiou fortemente a cristandade por volta do tempo em que se tornou imperador, com o Édito de Milão, mas também não tornou o paganismo ilegal ou fez do cristianismo a religião estatal única. Na sua posição de Pontifex maximus — cargo tradicionalmente ocupado por todos os imperadores romanos, e que tinha a ver com a regulação de toda e qualquer prática religiosa no império — estabeleceu as condições do seu exercício público e interferiu na organização da hierarquia quando convocado, seguindo uma prática, no que diz respeito aos cristãos, que já havia sido inaugurada por um imperador pagão, Aureliano, que fora chamado a arbitrar uma querela entre o bispado de Antioquia e o bispado de Roma, que excomungara Paulo de Samosata, bispo de Antioquia, por heresia. O Imperador reafirmara o que já era do direito circunscricional da Igreja Romana — ou seja, que as igrejas cristãs locais, no que diz respeito a sua organização administrativa — inclusive quanto a eleição dos bispos — deveriam reportar-se à igreja de Roma, a capital.
A sua vitória em 312 sobre Maxêncio resultou na ascensão ao título de augusto ocidental, ou soberano da totalidade da metade ocidental do império, reconhecida pelo pagão Licínio, único augusto do Oriente após a eliminação de Maximino Daia. A vitória de Constantino teve uma conseqüência militar imediata: Constantino aboliu definitivamente a guarda pretoriana, que havia sustentado Maxêncio e, com ela, os interesses políticos da aristocracia italiana, substituindo-a por um corpo de tropas de elite ligadas à pessoa do imperador, as scholae palatinae, que, a partir daí, seriam o núcleo do sistema militar romano, enquanto os velhos corpos de tropa territoriais eram negligenciados.As scholae eram principalmente regimentos de cavalaria, que serviam como uma força-tarefa ligada à pessoa do imperador, e seu principal objetivo era garantir uma capacidade de ação imediata em caso de guerra civil ou externa; quanto às forças de defesa territorial, os limitanei, estas acabaram reduzindo-se a uma mera força policial de fronteira, entrando em declínio imediato da sua capacidade combativa.O objetivo destas reformas militares era principalmente político, colocando a quase totalidade das forças militares móveis à disposição imediata do imperador — com a exceção de certas unidades territoriais que eram equiparadas às forças móveis e chamadas pseudocomitatenses — concentradas em áreas urbanas onde pudessem ser mantidas abastecidas dos suprimentos que eram agora a maior parte do soldo militar (os pagamentos em dinheiro tornando-se recompensas esporádicas pagas quando da ascensão ou dos jubileus de ascensão do imperador ao trono).
Quando Licínio expulsou os funcionários cristãos da sua corte, Constantino encontrou um pretexto para enfrentar seu colega e, tendo negada permissão para entrar no Império do Oriente durante uma campanha contra os sármatas, fez disto a razão para derrotar e eliminar Licínio em 324, quando tornou-se imperador único.
Apesar de a Igreja ter prosperado sob o auspício de Constantino, ela própria decaiu no primeiro de muitos cismas públicos. Constantino, após ter unificado o mundo romano, convocou oPrimeiro Concílio de Niceia, em um grande centro urbano da parte oriental do império, em 325, um ano depois da queda de Licínio, a fim de unificar a Igreja cristã, pois com as divergências desta, o seu trono poderia estar ameaçado pela falta de unidade espiritual entre os romanos. Duas questões principais foram discutidas em Niceia (atual İznik): a questão da Heresia Ariana que dizia que Cristo não era divino, mas o mais perfeito das criaturas, e também a data da Páscoa, pois até então não havia um consenso sobre isto.
Constantino só foi batizado e cristianizado no final da vida. Ironicamente, Constantino poderá ter favorecido o lado perdedor da questão ariana, uma vez que ele foi batizado por um bispo ariano,Eusébio de Nicomedia (que não deve ser confundido com o biógrafo do imperador, Eusébio de Cesareia). A inclinação que Constantino e seu filho e sucessor na condição de augusto único,Constâncio II, demonstraram pelo arianismo, é bastante explicável, na medida em que ambos tentaram apresentar a figura do imperador como um análogo do Cristo ariano: uma emanação divina, reflexo terreno do Verbo. A tempestuosa relação de Constantino com a Igreja da época dá conta dos limites da sua atuação no estabelecimento da Ortodoxia: pouco antes de sua morte, em 335, ele mandou exilar, na capital imperial de Trier, o patriarca de Alexandria Atanásio, campeão da ortodoxia, por suas violentas atitudes antiarianas, e apesar do fato de que Atanásio continuou a ser perseguido pelos sucessores de Constantino, o abertamente ariano Constâncio II e o pagão Juliano, o Apóstata, foi a sua visão teológica que acabou por prevalecer.

Estátua de Constantino em York, onde foi aclamado augusto
Ao mesmo tempo que velava pela unidade religiosa do império, Constantino quis resolver o problema da divisão da elite dirigente numa aristocracia senatorial com acesso exclusivo às "dignidades" (as velhas magistraturas republicanas, sem poderes ou responsabilidades, e transformadas numa mera hierarquia de status) e numa hierarquia burocrática de funcionários imperiais com funções administrativas efetivas e pertencentes à ordem eqüestre: após326, os altos funcionários passam à pertencer à ordem senatorial (os clarissimi) e o número de senadores passa de 600 a 2.000, com os requisitos de entrada elevados (em Roma, os ex-questores deixam de ser senadores, e a entrada no senado passa a depender da pretura; na nova capital de Constantinopla, o acesso ao senado seria garantido aos ex-titulares do posto de tribuno da plebe, velha magistratura ressuscitada). Com a entrada do alto pessoal administrativo na ordem senatorial, quaisquer pretensões de independência política da velha aristocracia ficaram eliminadas; a escolha de todos os imperadores subseqüentes seria feita exclusivamente na família do imperador ou através do exército.Em contrapartida, no entanto, Constantino parece haver cedido aos senadores no final do seu reinado o direito de elegerem, eles mesmos, questores e pretores e assim determinarem que pessoas queriam fazer ingressar na sua ordem, abandonando a prática da nomeação imperial de novos senadores, a adlectio. O senado, assim, se continuou sem o poder de fazer uma política própria, passou a ter o poder de estabelecer um "cadastro de reserva" da administração imperial. Por outro lado, paralelamente à carreira senatorial "padrão", a qual se chegava pela eleição às magistraturas, forma-se uma carreira alternativa, pela qual indivíduos não oriundos da aristocracia tradicional tornam-se automaticamente senadores ao serem nomeados pelo imperador para cargos de hierarquia senatorial. Em outras palavras, o título de senador passou a significar uma posição na hierarquia administrativa, e não uma função pública (excetuando-se, aí, o governo local de Roma). O que aconteceu com os senadores romanos foi apenas o exemplo mais notável do que aconteceu em todo o império com sua cristianização: as identidades culturais e políticas locais deixaram de contar diante da hierarquia burocrática central.

Fundação de Constantinopla

Para resolver definitivamente o problema logístico da distância entre a capital e as principais frentes militares da época, sem recorrer ao expediente de uma residência imperial "interina", Constantino reconstruiu a antiga cidade grega de Bizâncio, que dedicou em 11 de maio de 330 chamando-a de Nova Roma, dotando-a de um Senado e instituições cívicas (catorze regiões, um fórum, distribuições de trigo, um Prefeito do pretório) semelhantes aos da antiga Roma. Tratava-se, no entanto, de uma cidade puramente cristã, dominada pela Igreja dos Santos Apóstolos, junto a qual encontrava-se o mausoléu onde Constantino seria sepultado. Os templos pagãos de Bizâncio foram nela preservados, mas neles foram proibidos os sacrifícios e o culto das imagens dos deuses.Após a morte de Constantino, Bizâncio foi renomeada Constantinopla, tendo-se gradualmente tornado a capital permanente do império. A fundação de Constantinopla foi complementada pelo tratado (foedus) realizado entre Constantino e seus descendentes com os godos, que, a partir de 332, passaram a defender a fronteira do Danúbio e fornecer homens ao exército romano, em troca de abastecimentos. A mudança da capital imperial enfraqueceu a influência do papado de Roma e fortaleceu a influência do bispo de Constantinopla sobre o Oriente, um dos eventos notáveis que provocariam futuramente o Grande Cisma do Oriente.
Sucessão
Um ano depois do Primeiro Concílio de Niceia, em (326), portanto, durante uma viagem solene a Roma para a comemoração dos seus vinte anos de reinado, Constantino mandou matar seu próprio filho e sucessor designado Crispo, um general competente que provavelmente foi suspeito de intrigar para derrubar o pai. Pouco depois, sufocaria sua segunda mulher Fausta num banho sobreaquecido, provavelmente por suspeitar que ela tivesse intrigado contra seu enteado Crsipo. Mandou também estrangular o cunhado Licínio, que havia se rendido a ele em troca da vida echicotear até a morte o seu filho (e sobrinho do próprio Constantino). Foi sucedido por seus três filhos com Fausta: Constantino II, Constante e Constâncio II, os quais dividiram entre si a administração do império até que, depois de uma série de lutas confusas, Constâncio II emergiu como augusto único.

Apreciações póstumas

Constantino foi uma figura controversa já na sua época: o último imperador pagão, seu sobrinho Juliano, dizia que ele era atraído pelo dinheiro e que buscou acima de tudo, enriquecer a si e seus partidários — traço este (de saber enriquecer seus amigos) que também foi reconhecido pelo historiador Eutrópio e pelo próprio Eusébio de Cesaréia.O historiador pagão Zósimocriticou severamente suas reformas militares. Mas como primeiro imperador cristão, Constantino foi reverenciado durante toda a Idade Média, seja pela cristandade oriental, que o tinha como fundador do Império Bizantino — e a Igreja Ortodoxa acabou por canonizá-lo — seja pela ocidental, que, sem atribuir-lhe o status de santo, considerava haver ele criado os Estados Papais, territórios doados ao Papa pela chamada Doação de Constantino. Só com o Iluminismo seu legado começou a ser pesadamente criticado, e o historiador inglês Edward Gibbon, no seu livro clássico sobre a "A história do declínio e queda do império romano" o caracteriza como um general romano de velha cepa a quem o poder absoluto (e, por extensão, o Cristianismo) havia convertido num déspota oriental. Com a secularização da sociedade moderna, a apreciação de Constantino em função exclusivamente das suas reformas religiosas perdeu acuidade - e ele passou a ser analisado em termos da sua própria época, como um dos fundadores, juntamente com Diocleciano, do Baixo-Império (ou Dominato), do qual ele estabeleceu as estruturas políticas e sociais básicas.

A limes danubiana e oriental no tempo de Constantino, com os territórios conquistados no curso das campanhasgermano-sarmáticas (de 306 a 337). O mapa representa também o Império Romano pouco depois da morte de Constantino (337), com os territórios "repartidos" entre os seus três filhos (Constante, Constantino II e Constâncio II).






terça-feira, 27 de novembro de 2012

História de Abrão


Abraão era a décima geração de Noé mediante Sem. Nasceu 352 anos após o Dilúvio, em 2018 AC. Embora seja alistado primeiro entre os três filhos de Terá, em Gênesis 11:26, Evidentemente, Abraão é alistado primeiro entre os filhos de seu pai devido à sua notável fidelidade e proeminência nas Escrituras, prática seguida no caso de vários outros notáveis homens de fé, tais como Sem e Isaque. – Gen 5:32; 11:10; 1Cr 1:28.
No tempo de Abraão, a cidade de Ur estava mergulhada na idolatria babilônica e na adoração de seu deus-lua padroeiro, Sin. (Jos 24:2, 14, 15) Todavia, Abraão mostrou ser homem de fé em Deus, assim como seus antepassados, Sem e Noé; e, em conseqüência, granjeou a reputação de “pai de todos os que têm fé”. Visto que verdadeira fé se baseia em conhecimento exato. Abraão talvez obtivesse seu entendimento pela associação pessoal com Sem (suas vidas coincidiram durante 150 anos). Abraão conhecia e usava o nome de Deus; para citá-lo: “Levanto a mão para o Senhor, Deus Altíssimo, criador do céu e da terra”, “e jura-me pelo Senhor Deus dos Céus e o Deus da terra”. – Gên 14:22; 24:3.
Enquanto Abraão ainda vivia em Ur, “antes de fixar residência em Harã”, Deus ordenou que se mudasse para uma terra estranha, deixando para trás amigos e parentes. (At 7:2-4; Gen 15:7; Ne 9:7) Lá naquele país que Ele mostraria a Abraão, Deus disse que faria dele uma grande nação. Nessa época, Abraão, era casado com sua meia-irmã, Sara, mas não tinham filhos e ambos já eram idosos. Assim, era preciso grande fé para obedecer, mas ele deveras obedeceu.
Tara, então com cerca de 200 anos e ainda o chefe patriarcal da família, concordou em acompanhar Abraão e Sara nesta longa jornada, e é por este motivo que se atribui a Terá, como pai, a mudança em direção a Canaã. (Gên 11:31) Parece que o órfão Ló, sobrinho de Abraão fora adotado por seu tio e sua tia sem filhos, e, assim acompanhou-os. A caravana se moveu em direção ao noroeste, por uns 960 km, até alcançarem Harã. Abraão permaneceu ali até a morte de seu pai, Tera.

domingo, 25 de novembro de 2012

A Bíblia o livro dos livros


A Bíblia, um livro que tem continuado vivo através dos séculos e indispensável aos Servos do Rei, é o tema deste comentário.

O termo Bíblia tem origem no grego "Biblos" e somente foi usado a partir do ano 200 dC pelos cristãos é um livro singular, inspirado por Deus, diversos Escribas, Sacerdotes, Reis, Profetas e Poetas (2Tm 3.16; 2Pe 1.20,21) a escreveram, num período aproximado de 1.500 anos, foram mais de 40 pessoas e notadamente vê-se a mão de Deus na sua unidade. Estes textos foram copiados e recopiados de geração para geração em diversos idiomas, tais como: Hebraico, Aramaico e grego; até chegar a nós.

Verificou-se através do Método Textual, que 99% dos textos mantêm-se fiel aos originais, é certamente uma obra divina, levando em consideração os milhares de anos entre a escrita e nossos dias. As partes mais antigas das Escrituras encontradas são um pergaminho de Isaías em hebraico do segundo século aC, descoberto em 1947 nas cavernas do Mar Morto e um pequeno papiro contendo parte do Livro de João 18.31-33,37,38 datados do segundo século dC.
Divisão em Capítulos:

A Bíblia em sua forma original é desprovida das divisões de capítulos e versículos. Para facilitar sua leitura e localização de "citações" o Prof. Stephen Langton, no ano de 1227 dC a dividiu em capítulos.
Divisão em Versículos:
Até o ano de 1551 dC não existia a divisão denominada versículo. Neste ano o Sr. Robert Stephanus chegou a conclusão da necessidade de uma subdivisão e agrupou os texto em versículos.

Até a invenção da gráfica por Gutenberg, a Bíblia era um livro extremamente raro e caro, pois eram todos feitos artesanalmente (manuscritos) e poucos tinham acesso às Escrituras.

O povo de língua portuguesa só começaram a ter acesso à Bíblia de uma forma mais econômica a partir do ano de 1748 dC, quando foi impressa a primeira Bíblia em português, uma tradução feita a partir da "Vulgata Latina".

É composta de 66 livros, 1.189 capítulos, 31.173 versículos, mais de 773.000 palavras e aproximadamente 3.600.000 letras. Gasta-se em média 50 horas (38 VT e 12 NT) para lê-la ininterruptamente ou pode-se lê-la em um ano seguindo estas orientações: 3,5 capítulos diariamente ou 23 por semana ou ainda, 100 por mês em média.

Encontra-se traduzida em mais de 1000 línguas e dialetos, o equivalente a 50% das línguas faladas no mundo. Há uma estimativa que já foi comercializado no planeta milhões de exemplares entre a versão integral e o NT. Mais de 500 milhões de livros isolados já foram comercializados. Afirmam ainda que a cada minuto 50 Bíblias são vendidas, perfazendo um total diário de aproximadamente 72 mil exemplares!

Encontra-se nas livrarias com facilidade as seguintes versões em português:
Revista Corrigida;
Revista Atualizada;
Contemporânea;
Nova Tradução na Linguagem de Hoje;
Viva;
Jerusalém;
NVI - Nova Versão Internacional;
O segundo domingo de Dezembro, comemora-se o Dia Nacional da Bíblia, aprovado pelo Congresso.
Nestes séculos a Palavra de Deus foi escrita em diversos materiais, vejamos os principais:

PedraInscrições encontradas no Egito e Babilônia datados de 850 aC

Argila e CerâmicaMilhares de tabletes encontrados na Ásia e Babilônia.

MadeiraUsada por muitos séculos pelos gregos.

Couro

O AT possivelmente foi escrito em couro. Os rolos tinham entre 26 a 70 cm de altura.

PapiroO NT provavelmente foi escrito sobre este material, feito de fibras vegetais prensadas.

Velino ou PergaminhoVelino era preparado originalmente com a pele de bezerro ou antílope, enquanto o pergaminho era de pele de ovelhas e cabras. Quase todos os manuscritos conhecidos são em velino, largamente usado a centenas de anos antes de Cristo.

PapelForma amplamente utilizada hoje.

CDÁudio

CD - RoomPara computadores, é a forma mais recente.

On - lineVia internet.

Inegavelmente o Senhor Deus queria que sua Palavra se perpetuasse pelos séculos e providenciou meio para isto acontecesse. É um fato que evidencia a sua credibilidade como Livro inspirado pelo Espírito Santo.
Mas conhecer dados históricos não o aproxima do Senhor e tão pouco abre seus ouvidos para a voz do Espírito que revela a Palavra. Isto apenas enriquece-nos intelectualmente e é dispensável. O que realmente precisamos é estarmos aptos para ouvir o Espírito que flui através das páginas do Livro Sagrado e isto só acontece quando nos colocamos em santidade e abertos para o santo mover.
Experimente !

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Curiosidades bíblicas


A Arqueologia e o Texto da Bíblia

Embora a maioria das pessoas pense em grandes monumentos e peças de museu e em grandes feitos de reis antigos quando se faz menção da arqueologia bíblica, cresce o conhecimento de que inscrições e manuscritos também têm uma importante contribuição ao estudo da Bíblia. Embora no passado a maior parte do trabalho arqueológico estivesse voltada para a história bíblica, hoje ela se volta crescentemente para o texto da Bíblia.
O estudo intensivo de mais de 3.000 manuscritos do Novo Testamento (N.T.) grego, datados do segundo século da era cristão em diante, tem demonstrado que o N.T. foi notavelmente bem preservado em sua transmissão desde o terceiro século até agora. Nem uma doutrina foi pervertida. Westcott e Hort concluíram que apenas uma palavra em cada mil do N.T. em grego possui uma dúvida quanto à sua genuinidade.
Uma coisa é provar que o texto do N.T. foi notavelmente preservado a partir do segundo e terceiro séculos; coisa bem diferente é demonstrar que os evangelhos, por exemplo, não evoluíram até sua forma presente ao longo dos primeiros séculos da era cristã, ou que Cristo não foi gradativamente divinizado pela lenda cristã. Na virada do século XX uma nova ciência surgiu e ajudou a provar que nem os Evangelhos e nem a visão cristã de Cristo sofreram evoluções até chegarem à sua forma atual. B. P. Grenfell e A. S. Hunt realizaram escavações no distrito de Fayun, no Egito (1896-1906), e descobriram grandes quantidades de papiros, dando início à ciência da papirologia.
Os papiros, escritos numa espécie de papel grosseiro feito com as fibras de juncos do Egito, incluíam uma grande variedade de tópicos apresentados em várias línguas. O número de fragmentos de manuscritos que contêm porções do N.T. chega hoje a 77 papiros. Esses fragmentos ajudam a confirmar o texto feral encontrado nos manuscritos maiores, feitos de pergaminho, datados do quarto século em diante, ajudando assim a forma uma ponte mais confiável entre os manuscritos mais recentes e os originais.
O impacto da papirologia sobre os estudos bíblicos foi fenomenal. Muitos desses papiros datam dos primeiros três séculos da era cristã. Assim, é possível estabelecer o desenvolvimento da gramática nesse período, e, com base no argumento da gramática histórica, datar a composição dos livros do N.T. no primeiro século da era cristã. Na verdade, um fragmento do Evangelho de João encontrado no Egito pode ser paleograficamente datado de aproximadamente 125 AD! Descontado um certo tempo para o livro entrar em circulação, deve-se atribuir ao quarto Evangelho uma data próxima do fim do primeiro século - é exatamente isso que a tradição cristã conservadora tem atribuído a ele. Ninguém duvida que os outros três Evangelhos são um pouco anteriores ao de João. Se os livros do N.T. foram produzidos durante o primeiro século, foram escrito bem próximo dos eventos que registram e não houve tempo de ocorrer qualquer desenvolvimento evolutivo.
Todavia, a contribuição dessa massa de papiros de todo tipo não pára aí. Eles demonstram que o grego do N.T. não era um tipo de linguagem inventada pelos seus autores, como se pensava antes. Ao contrário, era, de modo geral, a língua do povo dos primeiros séculos da era cristã. Menos de 50 palavras em todo o N.T. foram cunhadas pelo apóstolos. Além disso, os papiros demonstraram que a gramática do N.T. grego era de boa qualidade, se julgada pelos padrões gramaticais do primeiro século, não pelos do período clássico da língua grega. Além do mais, os papiros gregos não-bíblicos ajudaram a esclarecer o significado de palavras bíblicas cujas compreensão ainda era duvidosa, e lançaram nova luz sobre outras que já eram bem entendidas.
Até recentemente, o manuscrito hebraico do Antigo Testamento (A.T.) de tamanho considerável mais antigo era datado aproximadamente do ano 900 da era cristã, e o A.T. completo era cerca de um século mais recente. Então, no outono de 1948, os mundos religioso e acadêmico foram sacudidos com o anúncio de que um antigo manuscrito de Isaías fora encontrado numa caverna próxima à extremidade noroeste do mar Morto. Desde então um total de 11 cavernas da região têm cedido ao mundo os seus tesouros de rolos e fragmentos. Dezenas de milhares de fragmentos de couro e alguns de papiro forma ali recuperado. Embora a maior parte do material seja extrabíblico, cerva de cem manuscritos (em sua maioria parciais) contêm porções das Escrituras. Até aqui, todos os livros do A.T., exceto Éster, estão representados nas descobertas. Como se poderia esperar, fragmentos dos livros mais freqüentemente citados no N.T. também são mais comuns em Qumran (o local das descobertas). Esses livros são Deuteronômio, Isaías e Salmos. Os rolos de livros bíblicos que ficaram melhor preservados e têm maior extensão são dois de Isaías, um de Salmos e um de Levítico.
O significado dos Manuscritos do Mar Morto é tremendo. Eles fizeram recuar em mais de mil anos a história do texto do A.T. (depois de muito debate, a data dos manuscritos de Qumran foi estabelecida como os primeiros séculos AC e AD). Eles oferecem abundante material crítico para pesquisa no A.T., comparável ao de que já dispunham há muito tempo os estudiosos do N.T. Além disso, os Manuscritos do Mar Morto oferecem um referencial mais adequado para o N.T., demonstrando, por exemplo, que o Evangelho de João foi escrito dentro de um contexto essencialmente judaico, e não grego, como era freqüentemente postulado pelos estudiosos. E ainda, ajudaram a confirma a exatidão do texto do A.T. A Septuaginta, comprovaram os Manuscritos do Mar Morto, é bem mais exata do que comumente se pensa. Por fim, os rolos de Qumran nos ofereceram novo material para auxiliar na determinação do sentido de certas palavras hebraicas.
Obs.:

A.T. = Antigo Testamento
N.T. = Novo Testamento

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Escola dos Annales

A chamada escola dos Annales é um movimento historiográfico que se constitui em torno do periódico acadêmico francês Annales d'histoire économique et sociale, tendo se destacado por incorporar métodos das Ciências Sociais à História; há que referir que o seu nascimento é também um reflexo da conjunta: estava-mos em 1929, ano da Grande Crise económica que assolou os Estados Unidos, bem como a Europa: Alemanha e França, em maior escala: os Annales visam ser como um retracto do espectro de '29, uma época de mutações, que iria ser como que a catapulta essencial para um novo tipo de história, a económica, a social...e empreender um corte na história política, na história individual, mas, sem a arredar de cena, como a vertente mais social vinha sendo vitima (era um pouco ostracizada, colocada num patamar secundário, bem no fundo da história política ou militar...).
Fundada por Lucien Febvre e Marc Bloch em 1929, propunha-se a ir além da visão positivista da história como crônica de acontecimentos (histoire événementielle), substituindo o tempo breve da história dos acontecimentos pelos processos de longa duração, com o objetivo de tornar inteligíveis a civilização e as "mentalidades".
A escola des Annales renovou e ampliou o quadro das pesquisas históricas ao abrir o campo da História para o estudo de atividades humanas até então pouco investigadas, rompendo com a compartimentação das Ciências Sociais (História, Sociologia, Psicologia, Economia, Geografia humana e assim por diante) e privilegiando os métodos pluridisciplinares.
Em geral, divide-se a trajetória da escola em quatro fases:
  • Primeira geração - liderada por Marc Bloch e Lucien Febvre
  • Segunda geração - dirigida por Fernand Braudel
  • Terceira geração - vários pesquisadores tornaram-se diretores, destacando-se a liderança de Jacques Le Goff e Pierre Nora, além de Philippe Ariès e Michel Vovelle; na arqueologia, destaca-se Jean-Marie Pesez.
  • Quarta geração - a partir de 1989.
História e características
Os fundadores do periódico (1929) e do movimento foram os historiadores Marc Bloch e Lucien Febvre, então docentes na Universidade de Estrasburgo. Rapidamente foram associados à abordagem inovadora dos "Annales", que combinava a Geografia, a História e as abordagens sociológicas da Année Sociologique muitos colaboradores eram conhecidos em Estrasburgo, para produzir uma análise que rejeitava a ênfase predominante em política, diplomacia e guerras, característica de muitos historiadores dos séculos XIX XX, liderados pelos sorbonnistas - designação dada por Febvre.
Os historiadores dos Annales foram os pioneiros na abordagem do estudo de estruturas históricas de longa duração ("la longue durée") para explicar eventos e transformações políticas. Geografia, cultura material e o que posteriormente os annalistas chamaram mentalidades (ou a psicologia da época) também eram áreas características de estudo.
Um eminente membro desta escola, Georges Duby, no prefácio de seu livro "O domingo de Bouvines", escreveu que a História que ele ensina, "rejeitada na fronteira do sensacionalismo, era relutante à simples enumeração dos eventos, esforçando-se, ao contrário, por expôr e resolver problemas e, negligenciando as trepidações da superfície, procurava situar no longo e médio prazos a evolução da economia, da sociedade e da civilização."
Bloch foi morto pela Gestapo durante a ocupação alemã da França, na Segunda Guerra Mundial, e Febvre seguiu com a abordagem dos "Annales" nas décadas de 1940 e 1950. Nesse período, orientou Fernand Braudel, que se tornou um dos mais conhecidos expoentes dessa escola. A obra de Braudel definiu uma "segunda geração" na historiografia dos "Annales" e foi muito influente nos anos anos 1960 e 1970, especialmente por sua obra de 1946, O Mediterrâneo e o mundo mediterrânico na época de Felipe II
Enquanto autores como Emmanuel Le Roy Ladurie e Jacques Le Goff continuam a carregar a bandeira dos "Annales", hoje em dia a sua abordagem tornou-se menos distintiva enquanto mais e mais historiadores trabalham a história cultural e a história econômica.
A 3° geração dos Annales é conduzida por Jacques Le Goff. Ficou mais conhecida como a "Nova História", segundo a qual, toda atividade humana é considerada história. Além de Le Goff, nesse período se destaca Pierre Nora.
Vale lembrar que, enquanto alguns autores, como Peter Burke, consideram a geração de historiadores franceses da geração de Jacques Le Goff em uma perspectiva de continuidade em relação ao movimento dos Annales (e os próprios historiadores deste grupo também se vêem desta maneira), já outros autores - como o François Dosse de "A História em Migalhas" - procuram enfatizar a ruptura entre a Nouvelle Histoire e o movimento dos Annales de Bloch a Braudel (BARROS, 2010, p. 77). Para François Dosse, por exemplo, o princípio de "História Total" - tão zelosamente cultivado por Bloch, Febvre e Braudel - teria sido traído por uma perspectiva historiográfica fragmentada,que já seria típica dos historiadores ligados à Nouvelle Histoire.

Principais nomes
  • Marc Bloch
  • Fernand Braudel
  • Pierre Chaunu
  • Georges Duby
  • Lucien Febvre
  • Marc Ferro
  • Jacques Le Goff
  • Pierre Nora
  • Emmanuel Le Roy Ladurie
  • Jacques Revel
Marc Bloch
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Marc Léopold Benjamim Bloch (Lyon, 6 de julho de 1886 — Saint-Didier-de-Formans, 16 de junho de 1944) foi um historiador francês notório por ser um dos fundadores da Escola dos Annales e morto pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

Biografia
Filho de Gustave Bloch, professor de História Antiga, Marc Bloch estudou na Escola Normal Superior de Paris, em Berlim e em Leipzig antes de ser bolseiro (bolsista) da Fundação Thiers (1909-1912).
Participou da Primeira Guerra Mundial na arma de infantaria, sendo ferido e recebendo uma condecoração militar por mérito.
Após a guerra ingressou na Universidade de Estrasburgo, instituição onde conheceu e conviveu com Lucien Febvre. Com este fundou, em 1929, a "Revue des Annales". Em 1936, sucedeu a Henri Hauser na cadeira de História Económica da Sorbonne. A revista e o seu conteúdo conheceram sucesso mundial, dando origem à chamada "Escola dos Annales", cuja linha de estudos por sua vez influenciou as chamadas "Nova história" e "História das mentalidades".
Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, e a ocupação nazista da França, Bloch, por ser judeu, teve que deixar a direção da Revista dos Annales, que passou a ser comendada apenas por seu colega Lucien Febvre. Além disso, Bloch militou na resistência francesa. Detido e torturado pela Gestapo, foi fuzilado em 16 de junho de 1944.

Obra
É considerado o maior medievalista de todos os tempos, e, na opinião de muitos, o maior historiador do século XX. Seus trabalhos e pesquisas abriram novos horizontes nos estudos sobre o feudalismo.
Foi um dos grandes responsáveis por importantes inovações no pensamento histórico. Defendeu o abandono de sequências pouco úteis de nomes e datas e estimulou uma maior reflexão sobre a a relação entre homem, sociedade e tempo na construção da História.
Tornou-se célebre a sua resposta a questão "O que é a História?": "É a ciência dos Homens no transcurso tempo."
A sua última obra, "Derrota Estranha", foi uma avaliação da derrota francesa a partir da invasão alemã. Na fase final da vida escreveu "Apologia da História", que deixou inacabada devido à sua morte

Livros publicados em vida
  • Les rois thaumaturges: Étude sur le caractère surnaturel attribué à la puissance royale particulièrement en France et en Angleterre (1924).
    • Tradução portuguesa: Os reis taumaturgos. São Paulo, Companhia das Letras, 1993.
  • Les caractères originaux de l'histoire rurale française (1931).
  • La société féodale (1939).
    • Tradução portuguesa: A sociedade feudal. Lisboa, Edições 70 ISBN 9724406474
Livros publicados após a morte
  • L'étrange défaite (1946).
  • Apologie pour l'histoire ou métier d'historien (1949).
    • Tradução portuguesa: Introdução à história. Mem-Martins, Publicações Europa-América.
  • Apologie pour l'histoire ou métier d'historien. (1949). Edição crítica organizada por Étienne Bloch (1993).
    • Traduções portuguesas:
      • Introdução à história. Mem-Martins, Publicações Europa-América.
      • Apologia da história ou o ofício de historiador, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2001.
  • Histoire et historiens. Colectânea organizada por Étienne Bloch, Paris, Armand Colin, 1995.
    • Tradução portuguesa: História e historiadores. Lisboa, Teorema, 1998
  • Rois et serfs et autres écrits sur le servage. Posfácio por Dominique Barthélémy. Paris, La Boutique de l'histoire éditions, 1996.
  • Écrits de guerre: 1914-1918. Colectânea organizada e apresentada por Etienne Bloch, com introdução de Stéphane Audoin-Rouzeau. Paris, Armand Colin, 1997.
Fernand Braudel
Fernand Braudel (Luméville-en-Ornois, 24 de agosto de 1902 — Cluses, 27 de novembro de 1985) foi um historiador francês e um dos mais importantes representantes da chamada "Escola dos Annales".

Biografia
Formado em História na Universidade de Sorbonne, começou sua carreira profissional na Argélia, onde permaneceu por dez anos, de 1923 até 1932. Durante a II Guerra Mundial,é preso e, sem qualquer material, escreve de memória a sua tese, que seria inspirada no contacto mais íntimo que tivera com o mar, a obra tem como título: O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrâneo na Época de Felipe II; em que a personagem central não é o rei Filipe II,mas sim o Mediterrâneo. Tese esta que é escrita a um ritmo frenético, em sensivelmente um ano: num ano são redigidos milhares de páginas, que haviam, como fora mencionado, escritas de memória.
Estudando o Mar na época de Filipe II de Espanha, Braudel inicialmente iria abordar temas políticos, em conformidade com as principais correntes historiográficas do período, como por exemplo, a escola metódica, para além de ser verificável um claro recurso à Geografia - temos assim a Geo-história -, naquele que seria um dos estudos mais notáveis da coeva historiografia. Porém, mais adiante em sua carreira, Braudel conhece Lucien Febvre, que se torna seu mestre e o aconselha uma mudança na temática de seu trabalho: Ao invés de se ater apenas ao tema politico, Lucien Febvre o aconselha a estudar a história do Mar Mediterrâneo de uma perspectiva mais ampla, analisando outros aspectos do período como, por exemplo, a economia da região naquela época.
Trabalhando nesse estudo ao longo de uma vida inteira, Braudel passou por diversos momentos felizes e tristes. Em 1935, ele abandona temporariamente o mediterrâneo e vem ao Brasil, onde por três anos se dedica, junto com um grupo de intelectuais franceses, a colaborar na organização da Universidade de São Paulo. Aqui permanece até 1937 finalizando assim um período em que o próprio historiador classificou como um dos mais felizes da sua vida. Seguindo o período feliz, veio o período de sofrimento. Pouco depois de seu retorno a França, inicia-se a segunda guerra mundial.

Obras
  • "La Méditerranée et le Monde Méditerranéen a l'époque de Philippe II" (3 vols.)
    • "La part du milieu" (v. 1) ISBN 2-253-06168-9
    • "Destins collectifs et mouvements d'ensemble" (v. 2) ISBN 2-253-06169-7
    • "Les événements, la politique et les hommes" (v. 3) ISBN 2-253-06170-0
  • "Ecrits sur l'Histoire" (1969) ISBN 2-08-081023-5
  • "The Mediterranean in the Ancient World"
  • "Civilisation matérielle, économie et capitalisme, XVe-XVIIIe siècle" (1979)
    • "Les structures du quotidien" (v. 1) ISBN 2-253-06455-6
    • "Les jeux de l'échange" (v. 2) ISBN 2-253-06456-4
    • "Le temps du monde" (v. 3) ISBN 2-253-06457-2
  • "Civilization and Capitalism, 15th–18th Centuries" (3 vols.) (1979)
  • "On History" (1980), tradução inglesa de "Ecrits sur l'Histoire" por Sian Reynolds
  • "La Dynamique du Capitalisme" (1985) ISBN 2-08-081192-4
  • "The Identity of France" (1986)
  • "Ecrits sur l'Histoire II" (1990) ISBN 2-08-081304-8
  • "Out of Italy, 1450–1650" (1991)
  • "A History of Civilizations" (1995)
  • "Les mémoires de la Méditerranée" (1998)
  • "Personal Testimony" in: Journal of Modern History, vol. 44, no. 4. (Dezembro de 1972)
Pierre Chaunu
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Pierre Chaunu, Belleville-sur-Meuse, Meuse, na Lorraine, 17 de agosto de 1923 - Caen, 22 de outubro de 2009  foi um historiador francês, especialista em estudos sobre a América espanhola e de história social e de história religiosa da França durante o Antigo Regime ( séculos XVI, XVII e XVIII). Foi uma grande figura francesa da história quantitativa e serial. Foi professor emérito da Paris IV-Sorbonne, membro do Institut, e comandante da Legião de Honra. Protestante defendeu posições conservadoras, numa crónica que ele tinha no jornal Le Figaro e num programa de rádio.

Biografia
Natural de Belleville (Meuse), teve uma vida familiar muito complicada, tendo uma infância marcada peal tragédia, tendo sido educado pelos seus tios.
Pierre Chaunu ensinou no liceu de Bar-le-Duc em 1947 onde foi professor de História. Foi admitido na Escola de Altos Estudos Hispânicos em 1948 e esteve até 1951 em Madrid e Sevilha. Foi muito influenciado por Fernand Braudel, que foi seu mestre e pela École des Annales (onde foi secretário de Lucien Febvre), Pierre Chaunu escreveu a tese Séville et l'Atlantique em 1954.

População e demografia
A tese central de várias das suas obras "a peste branca"é que o Ocidente contemporâneo se suicida devido ao perigo da desaceleração demográfica ou sa sua fraca natalidade, daí o subtítulo: Comment éviter le suicide de l’Occident  ? ("Como evitar o suicídio do Ocidente?").

Posteridade influência
Pierre Chaunu teve um impacto historiográfico importante, em relação á história quantitativa e serial, trabalhos sobre a América espanhola , de história social e ainda de história das religiões da França do Antigo Regime
Obras
  • Histoire de l'Amérique latine, Paris, PUF, "Que sais-je ?", 1949. Réédition en 2009.
  • Séville et l'Atlantique (1504-1650), Paris, SEVPEN, 12 volumes, 1955-1960. (esta obra recebeu o Prémio de Loubat em 1962.}}
  • Les Philippines et le Pacifique des Ibériques, Paris, SEVPEN, 2 volumes, 1960-1966.
  • L'Amérique et les Amériques de la préhistoire à nos jours, Paris, Armand Colin, 1964.
  • La Civilisation de l'Europe classique, Paris, Arthaud, 1966.
  • L'Expansion européenne du siècle XIII-XV}, Paris, PUF, 1969.
  • Conquête et exploitation des nouveaux mondes, Paris, PUF, 1969.
  • La Civilisation de l'Europe des Lumières, Paris, Arthaud, 1971.
  • L'Espagne de Charles Quint, Paris, SEDES, 2 volumes, 1973.
  • Démographie historique et système de civilisation, Rome, EFR, 1974.
  • Histoire, science sociale, Paris, SEDES, 1974.
  • Le Temps des Réformes, Paris, Fayard, 1975.
  • De l'histoire à la prospective, Paris, Robert Laffont, 1975.
  • Les Amériques, siècles XVI-XVIII, Paris, Armand Colin, 1976.
  • La peste blanche (avec Georges Suffert), Paris, Gallimard, 1976.
  • Séville et l'Amérique aux siècle XVI-XVIII, Paris, Flammarion, 1977.
  • La Mort à Paris, siècles XVI-XVIIIaris, Fayard, 1978.
  • Histoire quantitative, histoire sérielle, Paris, Armand Colin, 1978.
  • Le sursis, Paris, Robert Laffont, 1978
  • La France ridée,Paris, Pluriel, 1979
  • Un futur sans avenir, Histoire et population, Calmann-Lévy,1979
  • Histoire et imagination. La transition, Paris, PUF, 1980.
  • Église, culture et société. Réforme et Contre-Réforme (1517-1620), Paris, SEDES, 1980.
  • Histoire et décadence, Paris, Perrin, 1981. Grand Prix Gobert 1982.
  • La France, Paris, Robert Laffont, 1982.
  • Pour l'histoire, Paris, Perrin, 1984.
  • L'Aventure de la Réforme. Le monde de Jean Calvin, Paris, Desclée de Brouwer, 1986.
  • Apologie par l'histoire, Paris, Œil, 1988.
  • Le Grand Déclassement, Paris, Robert Laffont, 1989.
  • Reflets et miroir de l'histoire, Economica, Paris, 1990
  • avec Ernest Labrousse, Histoire économique et sociale de la France. Tome 1, 1450-1660, PUF, "Quadrige", 1993.
  • Colomb ou la logique de l'imprévisible, Paris, F. Bourin, 1993.
  • (en coll.), Baptême de Clovis, baptême de la France, Paris, Balland, 1996.
  • (en coll.), Le Basculement religieux de Paris au siècle XVIII, Paris, Fayard, 1998.
  • avec Michèle Escamilla, Charles Quint, Paris, Fayard, 2000.
  • avec Jacques Renard, La femme et Dieu, Paris, Fayard, 2001
  • avec Huguette Chaunu et Jacques Renard, Essai de prospective démographique, Paris, Fayard, 2003
  • Des curés aux entrepreneurs : la Vendée au siècle XIX, Centre Vendéen de Recherches Historiques, 2004.
  • Le livre noir de la Révolution française, Cerf, 2008
Artigos
  • (Com Roger Arnaldez) « La philosophie et l'histoire », in Jean-François Mattéi, Le Discours philosophique, volume IV de l’Encyclopédie philosophique universelle, Paris, PUF, 1998
Direção de obras
  • Alexandre le Grand. Monnaies, finances et politique, PUF, "Histoires", 2003
  • Les textes judéophobes et judéophiles dans l'Europe chrétienne à l'époque moderne, PUF, "Histoires", 2000
  • La grande guerre chimique (1914-1918), PUF, "Histoires", 1998
  • Une sainte horreur, ou le voyage en eucharistie, PUF, "Histoires", 1996
  • L' impossible code civil, PUF, "Histoires", 1992
  • Histoire des Juifs en Pologne du XVIe siècle à nos jours, PUF, "Histoires", 1992
  • Richelieu et Olivarès, PUF, "Histoires", 1991
  • La naissance de l'intime, PUF, "Histoires", 1988
Notas e referências
  1. Morreu o historiador Pierre Chaunu est mort
  2. Histoire, Memória, Identidade, homenagem a Pierre Chaunu, sobre collegedesbernardins.fr, 10 fevereiro de 2010.
  3. Por Gérard-François Dumont, seguido de uma leitura de um texto de Emmanuel Le Roy Ladurie, O legado monumental de Pierre Chaunu para a História, em Canalacademie.com, mis en ligne le 28 mars 2010
  4. voir le palmarès :
Georges Duby
Georges Duby (7 de Outubro de 1919 - 3 de Dezembro de 1996) foi um historiador francês, especialista na Idade Média.
Deu início à sua carreira universitária em Lyon, no ano de 1949, tendo sido posteriormente membro da Academia Francesa e professor do Collège de France entre os anos de 1970 e 1992. Foi um especialista em história medieval, lançou mais de 70 livros e coordenou coleções importantes, como a História da vida privada.

Obras
  • O Domingo de Bouvines: 27 de Julho de 1214 (1973);
  • O Ano 1000 (1974);
  • O Tempo das Catedrais: a Arte e a Sociedade (980-1420) (1976);
  • As Três Ordens ou o imaginário do Feudalismo (1978);
  • O Cavaleiro, a Mulher e o Padre (1981);
  • Guilherme o Marechal ou o melhor Cavaleiro do Mundo (1984).
  • Amor e Sexualidade no Ocidente"
Lucien Febvre
Lucien Paul Victor Febvre (Nancy, Meurthe-et-Moselle, 22 de julho de 1878 - Saint-Amour, Jura, 26 de setembro de 1956) foi um influente historiador modernista francês, co-fundador da chamada "Escola dos Annales".

Biografia
No período entre-guerras, Febvre idealizou uma revista de história que fundou, em 1929, em parceria com Marc Bloch: a "Revue des Annales". Essa parceria, formada na Universidade de Estrasburgo, durou apenas treze anos, tempo suficiente, entretanto, para patrocinar marcantes conquistas da História.
A partir dos "Annales", definiram-se as características de uma abordagem da História que se tornou conhecida como História das mentalidades, a qual, de forma sistematizada, analisa os sentimentos e costumes dos povos em determinado período histórico, baseando-se no princípio do "tempo longo", quando esses hábitos se transformam de maneira lenta ao longo dos tempos. Muitos estudiosos vêem em Febvre e Bloch os precursores da História das Mentalidades.
Em um período marcado por mortes e por dores profundas, as ciências humanas e principalmente a História, apareciam com uma grande parcela de culpa necessitando, assim, de que a compreensão do homem fosse o objetivo básico desse grupo e a interdisciplinaridade fosse o caminho. O livro Sociedade Feudal, de Marc Bloch, demonstra com grande clareza a síntese da longa duração - ou o longo tempo - , a psicologia histórica e a preocupação com a comparação, linguagem e evolução social. A Segunda Guerra Mundial freou esse desenvolvimento. Bloch foi obrigado pelos nazistas a se afastar da direção da revista e, em 1944, foi fuzilado por tropas alemãs quando participava ativamente da Resistência. O fim da guerra fez com que Febvre se tornasse o principal difusor dos preceitos da escola. Dirigiu a Revista dos Analles até 1946, quando passou a direção ao seu discípulo, Fernand Braudel.
Em 1947, Lucien Febvre fundou a VI Seção da École Pratique des Hautes Études, núcleo de origem da EHESS (Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais), criada em 1975.

Obras
  • Martinho Lutero, um destino (1928);
  • O Problema da Incredulidade no século XVI: A Religião de Rabelais (1942);
  • Combates pela História (1953).
  • A Europa: Gênese de Uma Civilização.
  • O Reno: Histórias, Mitos e Realidades.
  • Honra e Pátria.
  • O Aparecimento do Livro.
Referências
  1. "Para o modernista, dentro de sua noção científica de mundo, dentro da visão de história que inicialmente todos aceitamos, evidências são essencialmente evidência de que algo aconteceu no passado. O historiador modernista seguia uma linha de raciocínio que parte de suas fontes e evidências até a descoberta de uma realidade histórica escondida por trás destas fontes. De outra forma, sob o olhar pós-modernista [ou pós-estruturalista], as evidências não apontam para o passado, mas sim para interpretações do passado." Historiografia e pós-modernismo, por F. R. Ankersmit. Topoi. Rio de Janeiro, vol. 2, mar. 2001, pp. 113-135.
  2. CAIRE-JABINET, Marie-Paule (2003) "Introdução à Historiografia". São Paulo: EDUSC. p. 118.
Marc Ferro
Marc Ferro (nascido em 1924) é um historiador francês.

Biografia
Formado em História, Marc Ferro foi um nome de destaque entre os historiadores.
No inicio de sua carreira teve dificuldade de ingressar na carreira acadêmica, mas com ajuda de Fernand Braudel, um dos mais importantes historiadores da França, conseguiu mostrar sua importância ao mundo.
É um dos principais nomes da 3ª geração da "Escola dos Annales". Ferro é conhecido por ter sido o pioneiro, no universo historiográfico, a teorizar e aplicar o estudo da chamada relação cinema-história.
Como acadêmico, foi co-diretor da revista Les Annales (Économies, Sociétés, Civilisations), ensinou na l’École polytechnique, foi diretor de estudos na IMSECO (Institut du Monde Soviétique et de l’Europe Central e Oriental), membro do Comitê de redação do Cahiers du monde russe et soviétique e professor visitante nos EUA, Canadá, Rússia e Brasil.
Sua estadia na Argélia, em pleno fervor revolucionário, também não pode ser esquecida. De volta a França, ajudou a organizar comitês de solidariedade aos argelinos.
Em 1996, esteve no Brasil (Salvador-Bahia), participando de um simpósio internacional: A Guerra de Espanha e a relação cinema-história, organizado pela Oficina Cinema-História (UFBA).

Filmes
  • La Grande Guerre. 35 mm, 150 min., 1964.
  • Lénine par Lénine. 35 mm, 39 mun., 1970.
  • Une histoire de la médecine (com J-P Aron). 52 min., 1980.

 Ligações externas

  • (em francês) Conférence avec Marc Ferro, « Le ressentiment et les fractures de la France contemporaine » Centre d'études et de recherches internationales de l'Université de Montréal, 4 avril 2007.
  • (em francês) « À voix nue », série de cinq entretiens entre Marc Ferro et Benjamin Stora, France Culture, 11 au 15 décembre 2006.
Jacques Le Goff
Jacques Le Goff (Toulon, 1 de janeiro de 1924) é um historiador francês especialista em Idade Média. Autor de dezenas de livros e trabalhos; membro da Escola dos Annales, se empregou na antropologia histórica do ocidente medieval.
Antigo estudante da École Normale Supérieure, estudou na Universidade Charle de Prague em 1947-48,professor de história em 1950 e membro da École Française de Rome, foi nomeado assistente da Faculté de Lille (1954-59) antes de ser nomeado pesquisador no CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica), em 1960. Em seguida, mestre-assistente da VI seção da École pratique des hautes études (1962) - sucedeu Fernand Braudel no comando da École des hautes études en sciences sociales, onde ele foi diretor dos estudos. Cedeu seu lugar a François Furet em 1967. Na qualidade de diretor de estudo na École des Hautes Études en Sciences Sociales, Jacques Le Goff publicou brilhantes estudos consagrados, que renovaram a pesquisa histórica, sobre mentalidade e sobre antropologia da Idade Média. Seus seminários exploraram os caminhos então novos da antropologia histórica. Ele publicou os artigos sobre as universidades medievais, o trabalho, o tempo, as maneiras, as imagens, as lendas etc. VIHS
Co-diretor da Escola dos Annales, dirigiu os estudos ligados à “Nova História” , como a coletânea Faire de l’histoire em 1977 e o volumoso Dictionnaire de la Nouvelle Histoire publicado no ano seguinte, levando à revolução dos Annales. Sinal do sucesso de suas teses, ele atuou no renovamento pedagógico de história participando da redação de um manual escolar.
Nos anos 1980 ele trabalhou em uma biografia de São Luís, publicada em 1996. Tudo em recordações das etapas essenciais do reinado de Luís IX, ele renovou o gênero biográfico pelos seus métodos e suas reflexões sobre a possibilidade de conhecer realmente um personagem da Idade Média.

Obras
  • "Mercadores e Banqueiros na Idade Média", 1956
  • "'Os Intelectuais na Idade Média", 1957
  • "A Civilização do Ocidente Medieval", 1964
  • "Para um Novo Conceito da Idade Média", 1977
  • "O Nascimento do Purgatório", 1981
  • "O Imaginário Medieval", 1985
  • "História e Memória", 1988
  • "História Religiosa da França", em colaboração de direcção com René Rémond (4 vols.), 1988-1992
  • "O Homem Medieval" (dir.), 1994
  • "A Europa Contada aos Jovens", 1996
  • "Por Amor das Cidades", 1997
  • "A Bolsa e a Vida", 1997
  • "Por Amor das Cidades", 1999
  • "Dicionário Temático do Ocidente Medieval", em colaboração de direcção com Jean-Claude Schmitt, 2001
  • "O Deus da Idade Média", 2003
  • "Em Busca da Idade Média", 2003
  • "O Maravilhoso e o Quotidiano no Ocidente Medieval"
Pierre Nora
Pierre Nora (Paris, 17 de novembro de 1931) é um historiador francês.
Ocupa uma posição particular, que o qualifica como uma referência entre os historiadores franceses contemporâneos. É conhecido pelos seus trabalhos sobre a identidade francesa e a memória, o ofício do historiador, e ainda pelo seu papel como editor em Ciências Sociais. O seu nome está associado à Nova História ("nouvelle histoire").

Carreira académica
Na década de 1950 foi aluno do Lycée Louis-le-Grand, mas não foi recebido, ao contrário do que comumente se afirma, na Escola Normal Superior de Ulm. Obteve, em seguida, a licenciatura em Filosofia. Tendo recebido a agregação em História em 1958, lecionou no Lycée Lamoricière de Orão (Algéria) em 1960. Nesse período produziu um ensaio publicado com o título de "Les Français d'Algérie" (1961).
Foi bolsista da Fundação Dosne-Thiers, de 1961 a 1963, e assistente, depois professor-assistente, no Institut d'étude politiques de Paris, de 1965 a 1977. A partir de 1977, tornou-se director de estudos na École des hautes études en sciences sociales.

Como editor
Paralelamente, Pierre Nora construiu uma importante carreira como Editor. Ingressou em 1964 na Julliard, onde criou a colecção de livros de bolso "Archives". Em 1965, juntou-se à Gallimard: a prestigiada editora, já bem instalada no mercado da literatura, desejava desenvolver o seu sector das Ciências Sociais. Foi Nora que desempenhou esta tarefa pela criação de duas importantes colecções: a "Bibliothèque des sciences humaines" em 1966 e a "Bibliothèque des histoires" em 1970, além da coleção "Témoins" (1967).
Na Gallimard, Nora publicou entre as colecções que dirigiu, trabalhos importantes que constituem geralmente referências obrigatórias em seus respectivos campos de pesquisa, a saber:
  • Na "Bibliothèque des sciences humaines", Raymond Aron ("Les Étapes de la pensée sociologique", 1967), Georges Dumézil ("Mythe et épopée", 1968–1973), Marcel Gauchet("Le Désenchantement du monde", 1985), Claude Lefort ("Les Formes de l'histoire", 1978), Henri Mendras ("La Seconde Révolution française", 1988), Michel Foucault ("Les Mots et les Choses", 1966 ; "L'Archéologie du savoir", 1969).
  • Na "Bibliothèque des histoires", François Furet ("Penser la Révolution française", 1978), Emmanuel Le Roy Ladurie ("Montaillou", 1975, marca mais vendida da colecção, com 145.000 exemplares), Michel de Certeau ("L'Écriture de l'histoire", 1975), Georges Duby ("Le Temps des cathédrales", 1976), Jacques Le Goff ("Saint Louis", 1997), Jean-Pierre Vernant ("L'Individu, la mort, l'amour", 1989), Maurice Agulhon ("Histoire vagabonde", 1988–1996), Michel Foucault ("Histoire de la folie à l'âge classique", 1972 ; "Surveiller et punir", 1975 ; "Histoire de la sexualité", 1976–1984).
  • Entre os pesquisadores estrangeiros que contribuiu para introduzir na França, citam-se Ernst Kantorowicz ("Les Deux Corps du roi", 1959, publicado em 1989), Thomas Nipperdey ("Réflexions sur l'histoire allemande", 1983–1992, em 1992), Karl Polanyi ("La Grande Transformation", 1944, em 1983).
Este importante papel concedeu a Nora um certo poder no mercado editorial francês, que o expôs às críticas. Assim, ele se recusou, em 1997, a traduzir o livro de Eric Hobsbawm , "Age of Extremes" (1994), em virtude do "compromisso com a causa revolucionária" de Hobsbawm, que reinterpreta os grandes acontecimentos do século XX em torno do comunismo e, especificamente, a rejeição ou medo da União Soviética. Nora afirma que François Furet, que solicitou a tradução do livro em uma longa nota de pé de página em "Passé d'une illusion" ( 1995), aconselhou-o: "Tradu-lo, sangue bom! Não será o primeiro mau livro que tu publicarás". Serge Halimi, no "Le Monde diplomatique", comentará sobre a "censura". O livro foi finalmente publicado em 1999 sob o título "L'Âge des extrêmes" pela Éditions Complexe, em Bruxelas, com a colaboração do "Le Monde diplomatique".
Em maio de 1980, Nora fundou na Gallimard a revista "Le Débat" com o filósofo Marcel Gauchet; ela veio a constituir-se numa das mais importantes revistas intelectuais francesas.

Outros trabalhos
Também participou da Fondation Saint-Simon, criada em 1982 por François Furet e Pierre Rosanvallon e dissolvida em 1999.
Nora destacou-se ainda por ter dirigido a obra "Les Lieux de Mémoire", três volumes destinados a fornecer um inventário dos lugares e objetos nos quais se encarna a memória nacional francesa.

Recompensas e distinções

Nora recebeu o foi Prix Diderot-Universalis em 1988, o Prix Louise-Weiss de la Bibliothèque nationale em 1991, Prix Gobert da Académie française em 1993 e o Grand Prix national de l'histoire em 1993.
Ele foi presidente do Librairie européenne des idées no Centre national du Livre de 1991 a 1997 e membro do Conselho de Administração da Bibliothèque nationale de France de 1997 a 2000. Ele é membro do Conselho Científico da École nationale des chartes após 1991, do Conselho de Administração do Établissement public de Versailles após 1995, e do Haut Comité des célébrations nationales após 1998.
Em 7 de junho de 2001, foi eleito para a cadeira n° 27 da Académie française, onde sucedeu a Michel Droit. Recebeu o discurso de recepção a 6 de junho de 2002 por René Rémond.
Em 2006, tornou-se comendador da Légion d'honneur, oficial da Ordre national du Mérite e comendador da Ordre des Arts et des Lettres.